Publicado originalmente no LinkedIN em 28 de julho de 2016
Centenas de propostas são enviadas para comissões em todo o país a cada dia. Em comum elas apresentam suas ideias, o respaldo artístico das equipes e uma série de justificativas da relevância da sua proposta. O que raramente existe é um dado básico dentro de qualquer ferramenta de comunicação: para quem é direcionada a sua proposta.
Ao definir seu público você torna seu projeto artístico sempre mais interessante. A crença real de que a cultura é para todos pode gerar uma interpretação equivocada onde todos os projetos são produzidos para todos os públicos. Essa cultura de massa não é real e nem mesmo os grandes varejos acreditam mais nessa prática. Cada projeto tem um público ideal – urbano, periférico, criança, homem, mulher, jovem, solteiros, casados, aventureiros, religioso, cético, espiritualizado, que gosta de consumir, que busca preservar a natureza, que busca por novidades, entre tantas outras especificidades. Mapeando esse perfil, você começa a definir alguns pontos que são relevantes para o seu próprio projeto artístico e seu perfeito desenvolvimento, analisando os ambientes esse público tem o hábito de frequentar, quais os principais canais que eles utilizam para se informar, além do tipo de linguagem que melhor serve de ferramenta para que a obra possa fluir.
Toda proposta de patrocínio deveria começar pelo público. Quando existe uma ideia, a primeira pergunta deve sempre ser: Para quem?
Essa definição evita que seu projeto seja alvo de um dos grandes equívocos da captação de recursos que é o formalismo. Sem nenhuma razão, começam a aparecer custos ou ações que preenchem formulário, mas que não apresentam nenhuma coerência com o projeto. Além de não gerar nenhum interesse no patrocinador também criam inconsistência, o que dá ao avaliador a sensação de que sua proposta não é bem estruturada e, portanto, não será completamente executada.
Na contramão desse formalismo, a clareza do público-alvo do seu projeto permite uma narrativa única em sua proposta. Seu destaque acontecerá naturalmente ao apresentar uma proposta que tem como objetivo final se apresentar para essas pessoas. Esse contato é muito valioso e é o caminho que a comunicação empresarial tem buscado atingir todos os dias: relacionar com seus públicos. Não se vende mais produtos na base do imperativo pois comunicar nos tempos de hoje é engajar pessoas, o que é um grande trunfo da arte em sua essência.
Vale ressaltar que o público de uma empresa nem sempre é o consumidor pois muitas vezes a parceria acontece com outros públicos pelo qual a empresa se relaciona (ou suas partes interessadas, conhecidas nas empresas como Steakeholders). Essa estrutura de relacionamento, que inicialmente pode ser de difícil leitura, pode ajudar na relação de parceria. Um bom exemplo são empresas que possuem fábricas em cidades pequenas: elas em geral não vendem seus produtos exclusivamente na cidade ou atendem apenas outras empresas mas, no entanto, os moradores sofrem seus impactos positivos e negativos diariamente. Esse é um público que certamente essa empresa precisa dar atenção e seu projeto pode ser o canal para esse relacionamento.
Se a chave da comunicação é uma mensagem clara entre o emissor e o receptor, no patrocínio, ter clareza de quem é o receptor da ação é fundamental. Isso serve de base para definir se a proposta é coerente e se ela de fato estará alinhada aos objetivos da empresa. Quando você sabe exatamente o que o público quer, não só o seu projeto tem muito mais chances de ser assertivo como também a sua relação de parceria com o patrocinador se torna mais clara: vocês dois querem se relacionar com o mesmo público e cada um tem uma forma de alcançar esse objetivo.
É preciso mudar o pensamento corrente da captação de recursos que nos últimos anos se apoiou unicamente na busca pelo mecenas e no financiamento tão exclusivo da produção artística. Essa mentalidade fez com que até mesmo propostas de acesso fossem encaradas como novos produtos, o que distancia o artista da sua obra. A base do patrocínio contemporâneo apresenta uma nova oportunidade que é resgatar o essencial da arte: o artista em contato com o público.
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