Para que um projeto cultural seja consistente é necessário que ele esteja de acordo com a trajetória profissional de seus realizadores. E isso não quer dizer, necessariamente, experiência, e sim visão de futuro.
Um dos primeiros passos para a construção de uma proposta é a definição de um objetivo. Essa etapa à primeira vista parece algo simples, uma vez que todo mundo tem uma compreensão clara do que se trata. Um objetivo é algo que se busca atingir –simples assim. Acontece que é justamente nessa aparente simplicidade que residem muitos dos equívocos.
O objetivo de um projeto cultural parte de uma reflexão sobre um cenário complexo para atingir uma nova realidade que se deseja. Assim, a expectativa é que o projeto apresentado contribua para essa realização não como um ponto final, e sim, uma etapa dentro desse processo de transformação.
O verdadeiro desafio que o artista ou produtor deve encarar no momento de desenhar sua proposta e assim convencer aos que estão avaliando é apresentar um objetivo que seja capaz de sintetizar sua ação, definindo iniciativas coerentes dentro de um processo de transformação contínua.
Esse processo é movido por diversos motores internos e inspirações externas. Para que esses motores possam funcionar em sua potência máxima, antes de se debruçar para apresentar uma proposta a um patrocinador, é necessário confrontar o artista e sua futura obra.
Um bom exercício é colocar no papel a razão pela qual se deseja realizar esse projeto e o que se espera alcançar quando concluir sua realização.
Tal reflexão é fundamental para que se entenda a relevância da proposta e de que forma ela contribui para que o objetivo esteja mais próximo da realização. Possivelmente ao projetar você também irá notar as possíveis fraquezas que ficam obscuras quando a proposta está apenas no plano das ideias ou ainda ganhando forma no discurso. Vale ressaltar que essas fraquezas não devem servir como limitadores, e sim como oportunidades de desenvolvimento, e busca por conhecimento e parcerias que possam potencializar o alcance do projeto cultural.
Também é recomendável fazer uma segunda reflexão, mais severa, sobre o projeto. Olhando para onde você pretende chegar, analise a ideia e reflita:
se você fosse investir em um projeto cultural para atingir seu objetivo, investiria nessa proposta?
Provavelmente boa parte das hesitações que surgirem nesse questionamento serão semelhantes as de qualquer avaliador e, ainda que não sejam, se não forem revistas certamente cobrarão seu preço durante a execução da proposta.
Para não correr esse risco é importante voltar o olhar para fora e buscar outras referências e experiências que possam contribuir para o objetivo. É provável que outras pessoas, empresas ou associações estejam simultaneamente refletindo sobre as mesmas questões, ou ainda, que já tenham se deparado com os mesmos conflitos em algum momento de suas trajetórias. Entrar em contato com esse conhecimento e trazê-lo para dentro da sua proposta possui um valor imensurável, e nada mais consistente que uma proposta que traga respostas ao invés de gerar dúvidas.
No entanto, olhar para fora é um processo que deve ser muito bem direcionado. Ao decidir desenvolver um projeto cultural é comum que muitos estímulos levem a acreditar em um universo de possibilidades muito maior do que o projeto pode abraçar. Com a clareza da visão de futuro dos envolvidos fica muito mais evidente o que está a favor ou não do objetivo. Elimine sem o menor apego o que não leva à sua visão de futuro. A narrativa deve ser clara e qualquer informação vaga causará um ruído que fatalmente irá afastar o patrocinador de investir no seu projeto.
As empresas patrocinadoras, assim como toda a sociedade, reconhecem o potencial e a relevância do desenvolvimento de um projeto cultural. Para que esse reconhecimento se traduza em investimento é necessário que essa intenção esteja expressa de maneira clara e consistente. Um objetivo consistente demonstra uma visão de futuro na qual é possível acreditar e financiar. O desejo de associar-se a uma mudança positiva é uma motivação poderosa que pode levar um projeto, se bem gerido, em direção à transformação pretendida.
Publicado originalmente no LinkedIn em 4 de agosto de 2016
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